quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O caminho das pedras e os rochedos no caminho de TI

“Os deuses tinham condenado Sísifo a rolar um rochedo incessantemente até o cimo de uma montanha, de onde a pedra caia de novo por seu próprio peso. Eles tinham pensado, com as suas razões, que não existia punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.[1]

E quantas pedras inúteis rolamos e rolamos todos os dias?

Essa estória retrata muito bem situações frequentes em TI: quantos são os grandes projetos, de execução difícil e custosa, que ao final caem morro abaixo pela falta de uso, de gestão ou de recursos? Quantas áreas de TI falham em alcançar o reconhecimento organizacional, tendo que reiniciar todo a escalada novamente a cada ciclo? E ainda: estamos aumentando ou diminuindo o peso que carregamos ao subir a montanha do dia a dia?

Vejo essa angústia frequentemente e de forma ainda mais aguda em um ambiente no qual o rochedo do dia a dia precisa ser empurrado pari passu com a roda da inovação.

Mas voltemos ao mito: Sísifo não pôde escolher seu rochedo. O gestor pode. Pode avaliar qual a importância de cada processo e serviço para a Organização versus o esforço que consome da área. Pode avaliar, por exemplo, quanto dos recursos são direcionados à roda da inovação e quanto é gasto para empurrar o rochedo do dia a dia e quais os resultados obtidos.

Se a mitologia grega nos informa que o rochedo de Sísifo era o mesmo todos os dias vemos, no entanto, que ao longo do tempo vários rochedos vão ficando mais pesados. São as arquiteturas mal estruturadas que aumentam a complexidade e dificuldade da manutenção, os processos de desenvolvimento pesados e lentos, os erros que se propagam na cadeia de desenvolvimento e produção, a infraestrutura cujo aumento de complexidade não é acompanhado por maior maturidade dos processos de monitoramento e correção e ainda a falta de indicadores ou de cultura de utilização da informação.

Mas não basta ser pura é preciso parecer pura diriam as matronas romanas!

Assim, é necessário saber comunicar os resultados obtidos para a Organização. Para tanto é necessário identificar quais são momentos organizacionais de maior relevância para a criação da percepção de qualidade e quais as ferramentas de que dispõe para evidenciá-la.

O destino de Sísifo foi consequência de sua tentativa de enganar os deuses. Após ter dedurado Zeus, que o enviou ao Reino de Hades (local para o qual iam todos os mortos), fugiu dali com uma ardilosa mentira. Percebida a artimanha, mandou Zeus que Sísifo fosse enviado novamente ao Reino Inferior onde teria que diariamente executar a prova do Rochedo.

Diferente de Sísifo, no entanto, o gestor pode ser mais perspicaz em eleger as lutas que vai entrar e pode sim chegar ao cume sem ter que reiniciar no dia seguinte.

Essa caminhada pode ser facilitada se for capaz de priorizar os rochedos que carrega, medir seu tamanho e garantir que estejam diminuindo e, finalmente, saber comunicar de forma adequada as montanhas que supera no dia a dia.



[1] O MITO DE SÍSIFO – ALBERT CAMUS

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