“Os
deuses tinham condenado Sísifo a rolar um rochedo incessantemente até o cimo de
uma montanha, de onde a pedra caia de novo por seu próprio peso. Eles tinham
pensado, com as suas razões, que não existia punição mais terrível do que o
trabalho inútil e sem esperança.[1]”
E quantas pedras inúteis
rolamos e rolamos todos os dias?
Essa estória retrata muito bem situações frequentes em TI: quantos são os grandes projetos, de
execução difícil e custosa, que ao final caem morro abaixo pela falta de uso,
de gestão ou de recursos? Quantas áreas de TI falham em alcançar o
reconhecimento organizacional, tendo que reiniciar todo a escalada novamente a
cada ciclo? E ainda: estamos aumentando ou diminuindo o peso que carregamos ao
subir a montanha do dia a dia?
Vejo essa angústia frequentemente
e de forma ainda mais aguda em um ambiente no qual o rochedo do dia a dia
precisa ser empurrado pari passu com
a roda da inovação.
Mas voltemos ao mito: Sísifo
não pôde escolher seu rochedo. O gestor pode. Pode avaliar qual a importância
de cada processo e serviço para a Organização versus o esforço que consome da
área. Pode avaliar, por exemplo, quanto dos recursos são direcionados à roda da
inovação e quanto é gasto para empurrar o rochedo do dia a dia e quais os
resultados obtidos.
Se a mitologia grega nos
informa que o rochedo de Sísifo era o mesmo todos os dias vemos, no entanto,
que ao longo do tempo vários rochedos vão ficando mais pesados. São as
arquiteturas mal estruturadas que aumentam a complexidade e dificuldade da
manutenção, os processos de desenvolvimento pesados e lentos, os erros que se
propagam na cadeia de desenvolvimento e produção, a infraestrutura cujo aumento
de complexidade não é acompanhado por maior maturidade dos processos de
monitoramento e correção e ainda a falta de indicadores ou de cultura de
utilização da informação.
Mas não basta ser pura é
preciso parecer pura diriam as matronas romanas!
Assim, é necessário saber
comunicar os resultados obtidos para a Organização. Para tanto é necessário identificar
quais são momentos organizacionais de maior relevância para a criação da
percepção de qualidade e quais as ferramentas de que dispõe para evidenciá-la.
O destino de Sísifo foi
consequência de sua tentativa de enganar os deuses. Após ter dedurado Zeus, que
o enviou ao Reino de Hades (local para o qual iam todos os mortos), fugiu dali
com uma ardilosa mentira. Percebida a artimanha, mandou Zeus que Sísifo fosse
enviado novamente ao Reino Inferior onde teria que diariamente executar a prova
do Rochedo.
Diferente de Sísifo, no
entanto, o gestor pode ser mais perspicaz em eleger as lutas que vai entrar e
pode sim chegar ao cume sem ter que reiniciar no dia seguinte.
Essa caminhada pode ser facilitada se for capaz de priorizar os rochedos que carrega, medir seu tamanho e garantir que estejam diminuindo e, finalmente, saber comunicar de forma adequada as montanhas que supera no dia a dia.
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